Chegar ao Passo Oito não foi fácil para mim. Depois de muitas vinte e quatro horas de Nar-Anon tinha dificuldade de admitir que precisava fazer reparações ao adicto.

Trabalhando com as ferramentas que a irmandade me proporciona, fui lentamente reconhecendo que em muitos momentos desrespeitei meu filho. Antes achava que todo o meu fazer era por amor, na tentativa de salvá-lo das dores do mundo. Como mãe, tentava me convencer de que iria salvá-lo das drogas se o obrigasse a ser e fazer tudo que eu achava certo.

Praticando os Passos, reconheci que para conquistar a paz interior plena, seria necessário fazer reparações, admitindo que somente o adicto poderia cuidar de sua recuperação. Trabalhei cada vez mais minha recuperação. Reconheci que uma mudança em minha conduta traria modificações significativas na convivência diária, com dois adictos na ativa, que viviam em minha casa – meu filho e meu marido.

A programação funcionou em minha vida e comecei a fazer reparações ao meu filho. Porém, levei um tempo para conseguir. O Passo Oito pede para fazer a relação das pessoas com as quais desejo fazer reparações. Iniciei com coisas simples e percebi que algo estava mudando. Internamente me sentia melhor e ele começou a reagir diferente, assim como eu também. Passei a ser mais assertiva, evitando falar ao adicto sem antes pensar nos lemas: Até que ponto isso é importante? Primeiro as primeiras coisas; Que comece por mim, etc. Foi assim que chegamos ao momento de conversar por duas horas, sem brigas e, ao final, nos abraçamos, nos beijamos e choramos. Passado um dia, fui surpreendida com uma linda declaração de amor feita por meu filho e me surpreendi com as reparações que ele veio a me fazer.

Sou grata ao Nar-Anon que me ensinou a ter uma convivência harmoniosa com meu familiar. Ter feito reparações me deixou em paz, quando cerca de três anos depois ele veio a falecer. Desde então, continuo fazendo reparações para meu filho. Agora que não posso falar diretamente com ele, escrevo cartas e com isso alivio meu coração. Na verdade já é minha recuperação caminhando para o Passo Nove.

Continuo voltando às salas e me lembro que tenho a programação Nar-Anon para me dar o colo que preciso: vivendo um dia de cada vez, aceitando o que não posso modificar, com coragem para mudar aquilo que posso.

Só por hoje percebo que ter compreendido a importância do Passo Oito e tê-lo praticado me fortaleceu para a cada novo dia fazer novas reparações.

Eu que antes achava que não tinha que fazer reparações a ninguém, agora continuo fazendo minha lista, e percebo que já iniciei o Passo Nove.

Essa irmandade realmente salva vidas. Sou extremamente grata.